quarta-feira, 14 de maio de 2008

Que saudade do meu voto ( Parte 6 )

Lembro de poucas coisas da época em que morava em Brasília. Uma delas refere-se às eleições de 1989 entre Lula e Fernando Collor.
Depois de ter ganhado de Brizola o direito de disputar o segundo turno, nosso atual presidente poderia ter governado o país alguns anos atrás, trazendo, inevitavelmente, todos os progressos e conquistas que ora tem nos proporcionado. Infelizmente não ganhou.
Em seu lugar entrou Collor e todos sabemos o grande final.
Mas o que mais me recordo não é especificamente o resultado das eleições, nem mesmo a diferença de 3% entre os candidatos, que impingiu uma derrota a Lula, mas sim, os dias em que antecederam o pleito, quando saía com amigos para fazer campanha para o metalúrgico.
Tinha 16 anos e usávamos a desculpa de pedir votos às meninas como método de aproximação.
Lembro como se fosse hoje: havia um grupo de cinco meninas sentado entre as quadras do Cruzeiro Velho, algumas com mais de 20 anos, logo, em plena condição de votar.
No meio da conversa pedi a elas que votassem em Lula. A mais velha riu e disse: “de jeito nenhum”. Quis saber os motivos da escolha por Collor, esperava alguma explicação plausível, que pudesse até mesmo me convencer de que estava errado.
A explicação não veio. Não havia motivo aparente, nem mesmo um veio político de esquerda ou direita, nada que pudesse justificar seu voto.
Já que não havia motivo para se votar no presidente que mais tarde receberia Impechemant, pedi que mudasse sua intenção para Lula. Foi quando ela concluiu: “não conheço nem um nem outro, mas pelo menos Collor é bonitinho”.
Estava explicado. Alguns dias depois os aspectos fisionômicos do candidato alagoano talvez tenham lhe garantido os 3% a mais de voto que o feioso Lula da Silva precisava para se eleger.
E eu precisaria esperar alguns anos para ver o homem mais bem preparado deste país assumir a presidência.
Contei este fato para mostrar ao leitor como são as eleições da dita democracia brasileira. Muitos que lêem já sabem disso e hão de concordar comigo: não é possível permitir que outros aspectos, que não sejam a capacidade intelectual e de negociação, a vontade de trabalhar e ser honesto, definam uma eleição.
Uma recente pesquisa publicada no Estado de Minas revelou a baixa escolaridade do eleitorado brasileiro: exatos 51,5 % dos 127,4 milhões de eleitores não conseguiram completar o primeiro grau ou apenas lê e escreve e apenas 3,43% possuem curso superior. Ou seja, 65.611.000 eleitores são semi-analfabetos e 4.369.900 são letrados.
Esses números mostram o óbvio, explicam enfim o motivo pelo qual há em nosso congresso tanto político despreparado. Eles, em sua maioria, são eleitos por pessoas incapazes de discernir o certo do errado, gente humilde, influenciável, capaz de trocar votos por cestas básicas, por cinqüenta reais.
A conseqüência disso é clara: a minoria dos eleitores brasileiros, dotada de uma razão capaz de fazer uma escolha com mais parcimônia e menos emoção, com mais clareza e menos influência, vive em mercê das escolhas de uma grande massa que não consegue diferenciar o bom do mau político.
Em mercê de eleitores que votam em um candidato porque ele é “bonitinho”. É preciso mudar isso e no próximo texto finalizarei esta série de artigos propondo aquilo que acho correto para que haja uma verdadeira democracia no Brasil.

2 comentários:

Anônimo disse...

amigão, só pra te dizer que meu blog voltou

www.esvaziarnuvens.blogspot.com

abraço

Anônimo disse...

Boas idéias. Mas nessa 6ª parte surgiu uma contradição em relação à parte 5: se o povão não pudesse votar, se apenas uma elite cultural escolhesse o presidente, talvez, "o mais preparado presidente do Brasil", Lula, jamais fosse eleito. Essa forma de escolha do Presidente pode parecer frágil mas causa interessantes supresas, como esta que vivenciamos atualmente. Sabemos bem que esse "preparo" do Lula é mais um preparo de vida do que propriamente um preparo cultural.